segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Mente sã, corpo são.


Olá caros leitores,
O texto de hoje que irei comentar é muito interessante! Ele segue a mesma base dos anteriores, isto é, segue a linha de raciocínio da discussão sobre mente/alma e corpo como determinadores de comportamentos individuais e como causadores de doenças. No entanto, o ponto interessante é que é um pensamento do século XVII. Como será a visão deles sobre tal tema? É isso que irei comentar, além de expor minha opinião.

  

            A obra de Cardoso e Ferreira, “Medicina dos Afectos. Correspondências entre Descartes e a Princesa Elizabeth da Boêmia” expõe cartas que foram trocadas entre a princesa Elizabeth e o filósofo Descartes. O conteúdo das mensagens é justamente a questão alma/mente em contraposição ao corpo material. Na realidade, as cartas são enviadas com o intuito de esclarecer uma dúvida de Elizabeth: “Como é que a alma do homem (sendo uma mera substância pensante) pode determinar os espíritos do corpo a fazer ações voluntárias?” A partir disso, é feita uma discussão, no sentido positivo, com opiniões divergentes. Descartes, à princesa, defende a ideia de que a alma humana é tão poderosa e extrema que é a responsável pelos pensamentos, conhecimentos e percepções do indivíduo e que, ainda, é capaz de agir sobre o corpo material, de forma a determinar suas ações. Para melhor explicação de seu pensamento, Descartes defende claramente que não existe alma e corpo juntos, como muitos pensam, mas sim que a alma age sobre este.

“Assim, creio que anteriomente confundimos a noção da força com que a alma age sobre o corpo com aquela com que um corpo age sobre um outro; e que atribuimos ambas, não à alma, pois ainda a não conhecíamos.” (Descartes)

A partir deste trecho, é possível perceber claramente a ideia de Descartes. Dessa forma, a fim de sanar a dúvida de Elizabeth, Descartes menciona um exemplo que explicita sua ideia, e que é válido ser citado. O peso. O que o peso tem a ver com a alma e a mente? Segundo ele, apesar do peso ser uma qualidade real do corpo, não é o responsável por movimentá-lo, mas sim a mente. A mente é a responsável por fazer o corpo se mover através do peso. Interessante, não? Confesso que é uma ideia distante da maioria de nós, mas, na realidade, faz sentido. Ademais, ao final do texto, é apresentada a doença da princesa Elizabeth. Descartes a trata como, novamente, uma consequência da alma. E é a partir disso, que é possível associar o conteúdo das correspondências com as outras postagens do blog. Qual o papel da mente nos acontecimentos físicos do nosso corpo material? Será que, de fato, é ela a responsável por tamanha invasão? Para Descartes sim, e bom... Para mim também. Ele explica que de nada adianta as dietas e exercícios se não curarmos também os problemas psicológicos, ou seja, o remédio da alma. “A causa mais comum da febre lenta é a tristeza” (DESCARTES, René. 1645). Como curiosidade, o filósofo ainda classifica as almas. Alma maior ou baixa? Muita ou pouca influência da alma/pensamento/mente/percepções no nosso organismo?
No entanto, em contraposição a determinadas ideias de Descartes, a princesa Elizabeth defende que não é possível associar o corpo ao imaterial. Bom...na minha opinião, como já demonstrei em outras postagens, a mente realmente é, de fato, muito poderosa. E acredito que sim, é necessário considerá-la como responsável por reações que nosso corpo pode apresentar. Tomemos como exemplo o próprio caso da princesa Elizabeth. Em suas cartas, ela confessa ter uma mente fraca, isto é, uma mente que é fortemente influenciada pelo contexto no qual ela está inserida e por situações angustiantes e estressantes que ela vive em seu reino. Diante disso, questiono-me: Como pode a mente entristecida e agonizante não afetar o estado psicológico e físico de um indivíduo? Não tem como não afetar. Consideremos outro exemplo: um comportamento inquieto e isolado de uma criança que não interage com os colegas de classe, e em casa se mostra agressivo. Transtorno de personalidade antissocial! O comportamento da criança é, sem dúvida, consequência de experiências, talvez traumáticas, que afetaram negativamente seu emocional e que refletiram em um comportamento diferenciado. E é justamente isso que Descartes disse com outras palavras, ou seja, de fato, as qualidades reais do corpo, como peso, são materiais do ponto de vista físico, mas são alimentados pelo poder da mente. Afinal, não é a toa que dizem: “Mente sã, corpo são” (provérbio).
Em síntese, o estudo de Descartes é de extrema importância para a atualidade, visto que muito do que se discute no ramo da psicologia e ramo médico possui bases no que o filósofo propôs. Afinal, o ser humano é uma incógnita e há muito que se descobrir sobre ele. No entanto, o que foi exposto por Descartes nos ajuda a compreender a relação do indivíduo com ele mesmo, além da influência de aspectos externos, principalmente do contexto, nessa relação.
O que você pensa sobre isso? Acredita que somos fantoches controlados pela nossa própria mente? Até que ponto isso pode afetar nossa vida espiritual e física? Ademais, nós como máquinas humanas, somos capazes de reverter o processo? Reflita sobre isso e deixe seu comentário. Até a próxima postagem!

“O meu corpo é um jardim, a minha vontade o seu jardineiro.”
William Shakespeare









Data de postagem: 30/09/2013

Referência: Cardoso, A. Ferreira, M.L.R. (2001) Medicina dos Afectos. Correspondências entre Descartes e a Princesa Elizabeth da Boêmia. Lisboa: Editora CFUL/Celta Editora.





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