Olá
caros leitores,
O
texto de hoje que irei comentar é muito interessante! Ele segue a mesma base
dos anteriores, isto é, segue a linha de raciocínio da discussão sobre
mente/alma e corpo como determinadores de comportamentos individuais e como
causadores de doenças. No entanto, o ponto interessante é que é um pensamento
do século XVII. Como será a visão deles sobre tal tema? É isso que irei
comentar, além de expor minha opinião.
A obra de Cardoso e Ferreira, “Medicina
dos Afectos. Correspondências entre Descartes e a Princesa Elizabeth da Boêmia”
expõe cartas que foram trocadas entre a princesa Elizabeth e o filósofo
Descartes. O conteúdo das mensagens é justamente a questão alma/mente em
contraposição ao corpo material. Na realidade, as cartas são enviadas com o
intuito de esclarecer uma dúvida de Elizabeth: “Como é que a alma do homem
(sendo uma mera substância pensante) pode determinar os espíritos do corpo a
fazer ações voluntárias?” A partir disso, é feita uma discussão, no sentido
positivo, com opiniões divergentes. Descartes, à princesa, defende a ideia de
que a alma humana é tão poderosa e extrema que é a responsável pelos
pensamentos, conhecimentos e percepções do indivíduo e que, ainda, é capaz de
agir sobre o corpo material, de forma a determinar suas ações. Para melhor
explicação de seu pensamento, Descartes defende claramente que não existe alma
e corpo juntos, como muitos pensam, mas sim que a alma age sobre este.
“Assim, creio que
anteriomente confundimos a noção da força com que a alma age sobre o corpo com
aquela com que um corpo age sobre um outro; e que atribuimos ambas, não à alma,
pois ainda a não conhecíamos.” (Descartes)
A
partir deste trecho, é possível perceber claramente a ideia de Descartes. Dessa
forma, a fim de sanar a dúvida de Elizabeth, Descartes menciona um exemplo que
explicita sua ideia, e que é válido ser citado. O peso. O que o peso tem a ver
com a alma e a mente? Segundo ele, apesar do peso ser uma qualidade real do
corpo, não é o responsável por movimentá-lo, mas sim a mente. A mente é a
responsável por fazer o corpo se mover através do peso. Interessante, não?
Confesso que é uma ideia distante da maioria de nós, mas, na realidade, faz
sentido. Ademais, ao final do texto, é apresentada a doença da princesa
Elizabeth. Descartes a trata como, novamente, uma consequência da alma. E é a
partir disso, que é possível associar o conteúdo das correspondências com as
outras postagens do blog. Qual o papel da mente nos acontecimentos físicos do
nosso corpo material? Será que, de fato, é ela a responsável por tamanha
invasão? Para Descartes sim, e bom... Para mim também. Ele explica que de nada
adianta as dietas e exercícios se não curarmos também os problemas
psicológicos, ou seja, o remédio da alma. “A causa mais comum da febre lenta é
a tristeza” (DESCARTES, René. 1645). Como curiosidade, o filósofo ainda
classifica as almas. Alma maior ou baixa? Muita ou pouca influência da alma/pensamento/mente/percepções
no nosso organismo?
No
entanto, em contraposição a determinadas ideias de Descartes, a princesa
Elizabeth defende que não é possível associar o corpo ao imaterial. Bom...na
minha opinião, como já demonstrei em outras postagens, a mente realmente é, de
fato, muito poderosa. E acredito que sim, é necessário considerá-la como
responsável por reações que nosso corpo pode apresentar. Tomemos como exemplo o
próprio caso da princesa Elizabeth. Em suas cartas, ela confessa ter uma mente
fraca, isto é, uma mente que é fortemente influenciada pelo contexto no qual
ela está inserida e por situações angustiantes e estressantes que ela vive em
seu reino. Diante disso, questiono-me: Como pode a mente entristecida e agonizante
não afetar o estado psicológico e físico de um indivíduo? Não tem como não
afetar. Consideremos outro exemplo: um comportamento inquieto e isolado de uma
criança que não interage com os colegas de classe, e em casa se mostra
agressivo. Transtorno de personalidade antissocial! O comportamento da criança
é, sem dúvida, consequência de experiências, talvez traumáticas, que afetaram
negativamente seu emocional e que refletiram em um comportamento diferenciado. E
é justamente isso que Descartes disse com outras palavras, ou seja, de fato, as
qualidades reais do corpo, como peso, são materiais do ponto de vista físico,
mas são alimentados pelo poder da mente. Afinal, não é a toa que dizem: “Mente
sã, corpo são” (provérbio).
Em
síntese, o estudo de Descartes é de extrema importância para a atualidade,
visto que muito do que se discute no ramo da psicologia e ramo médico possui
bases no que o filósofo propôs. Afinal, o ser humano é uma incógnita e há muito
que se descobrir sobre ele. No entanto, o que foi exposto por Descartes nos
ajuda a compreender a relação do indivíduo com ele mesmo, além da influência de
aspectos externos, principalmente do contexto, nessa relação.
O
que você pensa sobre isso? Acredita que somos fantoches controlados pela nossa
própria mente? Até que ponto isso pode afetar nossa vida espiritual e física?
Ademais, nós como máquinas humanas, somos capazes de reverter o processo?
Reflita sobre isso e deixe seu comentário. Até a próxima postagem!
“O meu corpo é um jardim, a minha vontade o seu jardineiro.”
Data de postagem: 30/09/2013
Referência: Cardoso, A. Ferreira, M.L.R.
(2001) Medicina dos Afectos. Correspondências entre Descartes e a
Princesa Elizabeth da Boêmia. Lisboa: Editora CFUL/Celta
Editora.

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